Dogma – Ironia musical

Dogma presenteia-nos com um álbum, cujo título evoca a condenação dos temas que glorifica, erigindo-se assim sobre um paradoxo voluntário.

Entrevista: Cristina Sá
Info: Dogma


É a segunda vez que são entrevistados para a Versus.

Reparei que, desde o lançamento do «Reditum», em 2017, entraram dois novos membros para a banda. Como aconteceu isso?

Gonçalo NascimentoNem sempre é possível conciliar a nossa vida pessoal e profissional com o trabalho que a atividade normal de uma banda exige. Os elementos que saíram já não o conseguiam fazer. Os novos elementos têm todos as características e a experiência de que os Dogma necessitavam para dar continuidade ao projeto.

Podem falar-nos um pouco da história deste álbum?

Gonçalo Nascimento – Este novo álbum começou a ser composto imediatamente após a gravação do«Reditum». Fomos trabalhando os novos temas aos poucos, durante os ensaios para os concertos, e naturalmente fomos tocando alguns deles ao vivo.

A ideia foi sempre manter a nossa sonoridade original. Desta vez, não estávamos a trabalhar em temas que já tínhamos pré-concebido, mas sim a fazer praticamente tudo de raiz, mas julgo que conseguimos atingir esse objetivo. Vão ouvir um álbum de Dogma que certamente não vai desiludir ninguém.

“Este novo álbum começou a ser composto imediatamente após a gravação do «Reditum». Fomos trabalhando os novos temas aos poucos, durante os ensaios para os concertos […].”

Tendo em conta o respetivo título («Malleus Malleficarum»), calculo que deve tratar de bruxaria, caça à bruxas e temas afins. Confirma-se?

Gonçalo Nascimento – Não diretamente. O álbum só aborda esse assunto em dois temas, mas o resto tem conteúdo mais que suficiente para levar qualquer um de nós para a fogueira da Inquisição. Achámos divertido nomear um trabalho com o título de uma obra que foi concebida para destruir tudo o que nele está representado.

De que   forma é essa temática abordada na música?

Luís Possante – Geralmente as letras e textos do Gonçalo são o ponto de partida. São elas que dão o mote e são o foco de inspiração para a parte musical. A partir daí constroem-se as bases musicais, para dar uma moldura sonora ao que está escrito, que depois é trabalhada por todos até chegarmos a um resultado que nos satisfaça. Desde o início, foi essa a nossa maneira de fazer as coisas e é o que tem resultado até agora.

Em relação ao «Malleus Maleficarum» especificamente e devido ao facto de as letras do Gonçalo abordarem diferentes temas e não só e apenas esse da bruxaria, resultou um álbum com músicas bastante diferentes umas das outras, cada uma delas com a sua essência e personalidade próprias, facto esse que muito nos agradou.

E nas letras das canções?

Gonçalo Nascimento – As duas músicas que abordam esse tema fazem-no de forma diferente. O “Malleus Maleficarum” transcreve partes díspares do livro, lidas por várias vozes sobrepostas, ao que juntámos uma sonoridade que ajuda a dar um ambiente de leitura de sentença. O segundo tema é “A Hora do Último Sol”, que é só uma história. Poderia aqui contar o que nela se passa e como está ligada ao tema da caça às bruxas, mas prefiro que oiçam e viajem com a música.

E também na arte gráfica? Quem vos fez a capa?

Luís Possante – A capa foi feita por mim. A minha ideia para a capa pretendia ser uma metáfora da perfeição e inocência violentada e destruída, daí a imagem da estátua do anjo decapitada e ensanguentada. Foi inspirada principalmente no texto d´“A Hora do Último Sol” e, se o lerem vão ver que o ilustra perfeitamente.

Neste momento já foi divulgada nas redes sociais uma faixa intitulada “Asmodeus”.

– Podem fazer alguns comentários sobre esta canção?

Gonçalo Nascimento – Tenho de corrigir, O “Asmodeus” é a segunda faixa retirada do álbum. A primeira foi “Deus Assassino”, que também é o primeiro videoclipe dos Dogma. Irei então comentar os dois.

O “Deus Assassino” foi escolhido por acharmos que é o tema que melhor representa o “Malleus Maleficarum”, visto que aborda a angústia, a solidão e a tristeza, sentimentos que irão percorrer todo o álbum. O “Asmodeus” é uma música que facilmente se enquadraria nos nossos primeiros tempos como banda pela sua estrutura simples e sonoridade. É um tema em que a paixão é vista como o único princípio a seguir e tudo o que a obscurece é abandonado e esquecido.

– Há alguma razão em especial para terem dado tanto destaque à voz da Isabel?

Gonçalo Nascimento – Quando compomos, só nos preocupamos com o que irá de encontro às espectativas que temos, quem faz o quê não é importante. Este tema pedia mais a voz da Isabel a acompanhar a melodia e naturalmente ficou assim. Também é um tema que obrigava a ser cantado por uma voz feminina, a letra foi escrita com esse intuito.

– Como têm as pessoas reagido a este single?

Gonçalo Nascimento – A maior parte das reações tem aparecido nas redes sociais. Além dos elogios ao tema, surge a impaciência pelo lançamento do álbum, o que naturalmente nos motiva.

– Estão a contar divulgar mais canções antes do lançamento do álbum?

Gonçalo Nascimento – Sim, irá ser divulgada mais uma antes do lançamento oficial do álbum.

“[…] Desta vez, não estávamos a trabalhar em temas que já tínhamos pré-concebido, mas sim a fazer praticamente tudo de raiz […]”

De acordo com a informação dada pela banda na página oficial no Facebook, o álbum sai a 12 de setembro.

– Pressuponho que vai ser mais um lançamento independente. É o que está previsto?

Miguel Sampaio – Inicialmente era essa a nossa ideia, como havia sido feito com o «Reditum». No entanto, após o lançamento do vídeo de “Deus Assassino”, entrámos em negociações com a Ethereal Sound Works, o que veio a resultar na assinatura de contrato para a edição do novo álbum. Só podemos agradecer à ESW e ao Gonçalo João o voto de confiança que nos deram.

– Como pensam promovê-lo (para além de o divulgarem nas redes sociais) tendo em conta a crise que se instalou desde março deste ano?

Miguel Sampaio – A divulgação para já será efetuada por nós, pela Ethereal Sound Works e pela nossa agência, a Notredame Productions. Os canais serão os possíveis nesta altura, dando larga preponderância aos canais digitais.

Já demos também um concerto online para o Rock In Amadora e talvez o voltemos a fazer, se as oportunidades surgirem.

O que mais desejamos, é tocá-lo ao vivo. Veremos quando será possível.

Para terminar: querem deixar alguma mensagem especial aos nossos leitores?

Gonçalo Nascimento – Espero que oiçam o nosso novo trabalho e que vos ajude a obter os sentimentos que nele procuram. 

Luís Possante – Obrigado a todos os que nos têm sempre apoiado. Fiquem atentos às novidades e ao novo álbum.

Leave a comment

Create a free website or blog at WordPress.com.

Up ↑