Dark Age of Ruin – Metal atlântico

Dos Açores, fala-nos Hugo Medeiros, que, com o seu filho Hugin, formou a banda Dark Age of Ruin, que se vê como a detentora do trono do Black Metal açoriano. Esta dupla audaciosa – com o apoio de uma editora e do Museu do Heavy Metal açoriano – lançou o seu primeiro álbum intitulado «False Messiah and the Abstract», que está a ser divulgado na Europa e na América do Sul.

Entrevista: CSA
Mais info: Dark Age of Ruin | Selvajaria Records


Saudações.

Hugo Medeiros – Desde já o nosso agradecimento pela entrevista.

É a primeira vez que entrevisto uma banda constituída por um pai e um filho. Como aconteceu isto?

O ser pai e filho aconteceu de forma bastante natural, como devem imaginar. Tudo começa em 2020. O Hugin (filho) atinge a maturidade musical necessária e logo aí começam a sair uns riffs de guitarra bastante interessantes na linha Black Metal, visto que ambos gostamos e ouvimos muito do estilo. Foi assim de forma muito natural.

Como se organizam para fazer funcionar o vosso projeto conjunto?

Estamos sempre organizados a bem dizer. Para já é um trabalho feito cá em casa, espaço em que nós não temos qualquer tipo de pressão para poder desenvolver o nosso trabalho. As composições são sempre feitas a partir de riffs de guitarra do Hugin e alguns meus no baixo. Mas, sem dúvida, o Hugin é o grande obreiro da maior parte dos temas. Eu (pai) faço as linhas de baixo, letras e melodias vocais e ajudo na estrutura dos temas. Quanto à parte de produção, mixagem e masterização, é tudo feito também pelo Hugin.

Algum dos dois viveu a experiência de fazer parte de outra banda?

Sim, eu Hugo (pai) já tive várias experiências noutras bandas e projetos. Para quem não sabe, embora tivesse aprendido guitarra com os meus 11 ou 12 anos, comecei por ser baterista, que é a minha grande paixão. Portanto, a partir daí foi só bateria. Toquei em bandas que, infelizmente, nunca saíram da garagem, isso em plenos anos 90. A minha primeira banda foram os Mary Jane Puppets, que era uma banda de Grunge. Ainda chegamos a dar uns bons concertos e a participar no extinto festival Novas Ondas, que se fazia por cá. Bem mais tarde, também como baterista, abracei um novo projeto chamado Rifte N ́Roll, banda de Rock português. Aí chegamos mais à frente com o lançamento de um álbum e com bastante evidência nas rádios locai, e alguns concertos.

A cena Metal açoriana é muito interessante. Como se posicionam nesse contexto?

Sim, nós cá nos Açores temos muitos e bons projetos e bandas de Metal. Aliás, sempre tivemos. Nós – e não querendo deixar de ser modesto – viemos ressuscitar e levantar a bandeira do Black Metal cá nos Açores, que andava adormecido há anos. E, para grande surpresa nossa, o álbum tem chegado a muitas partes do mundo e com muito boas críticas. Em relação ao nosso posicionamento no contexto da cena metal açoriana, vemo-nos como os atuais detentores do trono do verdadeiro Black Metal.

Este é o vosso primeiro álbum.

– O que vos motivou a dar este passo?

Já há algum tempo que tínhamos esse objetivo de lançar um álbum. Desde o nosso primeiro registo – o EP «From Northern Skies» – viemos sempre trabalhando em prol da composição do álbum. Até esta altura ainda não tínhamos a ideia bem definida se iríamos lançar o álbum físico ou só digital.

– Quem colaborou convosco nesta aventura?

Aí está, foi como uma junção de forças entre a Selvajaria Records e o Museu do Heavy Metal Açoriano. Tudo isto começou com uma simples conversa com o Mário Lino (MHMA) em que lhe disse que estávamos a trabalhar no álbum e que o iríamos lançar só em versão digital. E aí ele abordou-me com a hipótese de podermos lançar em versão física (CD). Claro que fiquei interessado! Depois disso é que entra a Selvajaria Records. Através do Mario, conhecemos o Hugo Rebelo (Mosgo), que ouviu o nosso som e desde logo quis avançar com a cena toda, O Mário e o Hugo foram incansáveis e uma ajuda muito grande para nós. Oprocesso e as nossas conversas foram sempre cinco estrelas, correu muito bem o relacionamento. Adoramos trabalhar com o Hugo (Selvajaria Records) e com o Mário Lino (MHMA), não esquecendo o nosso amigo Filipe Machado, que também fez parte dessa aventura. Desde já esperamos voltar a trabalhar com essa gente talvez para um próximo álbum.

Temos um Black Metal old school bem endiabrado, não é assim? Porquê esta escolha?

Sim é um Black Metal bastante endiabrado. E não foi bem uma escolha! Tudo começa com os riffs de guitarra do Hugin. Foi muito natural, nada foi forçado. E como nós gostamos muito de Black Metal old school, foi muito simples definir a linha que queríamos seguir.

Pelos títulos das faixas, penso que se foca na religião (não forçosamente para a defender). É isto ou passei ao lado do verdadeiro tema do álbum?

É por aí. Nós decidimos neste álbum abordar o sacro profano, mais por minha decisão, porque eu escrevo as letras e porque escolhi esse tema. Desde sempre que o sacro profano me fascina e li alguns livros e vi alguns documentários sobre esse tema, não mais que isso. Não somos uma banda satânica, como alguns possam pensar. Foi mesmo uma questão de abordagem do tema com algum conhecimento próprio para escrever os temas. Nas letras, tentei abordar questões que se relacionam com o nosso dia a dia. Há muita metáfora nas letras.

A figura que ilustra a capa do álbum também pode apontar para uma temática religiosa.

– É esse o caso?

Sem dúvida, até porque o nome do álbum diz tudo “False Messiah And The Abstract”. A figura ilustra mesmo um falso messias, era essa a intenção.

– Quem fez a capa para o álbum?

A capa do álbum foi toda feita pelo Hugin. Já há algum tempo que tinha a ideia de como iria ser a capa.

Estive a ler a crítica ao vosso álbum que aparece na Metallum e o respetivo autor menciona uma banda de Black Metal que já entrevistei várias vezes (os noruegueses Tsjuder). Essa referência deu-me a ideia de vos perguntar quais são as vossas influências, quer nacionais, quer estrangeiras.

Muito bem! Tsjuder é verdadeiramente uma grande influência para nós, tal como bandas como Mayhem, Immortal, Behemoth, Urgehal, Impaled Nazarene entre outras. Algumas demos de bandas extintas norueguesas também foram influências.

Tencionam fazer concertos para apresentar este vosso álbum?

Para já, não faz parte das nossas ideias. Quem sabe futuramente partimos para os palcos. E podem esperar para o próximo álbum um terceiro elemento. Se calhar, vamos passar a ser um trio.

De que forma a vossa editora vos apoia? [O vosso promo kit é espetacular.]

A Selvajaria Records tem feito um enorme trabalho desde o princípio, desde a interação com as fábricas. O Hugo foi incansável a tentar fazer o melhor possível para que o disco ficasse a nosso gosto. Também nos ajudou muito na divulgação, que foi uma coisa brutal: em muitos países europeus e até mesmo a América do Sul. O nosso agradecimento à Selvajaria Records. Agora um aparte: também contamos com o apoio do Museu do Heavy Metal açoriano que não pode ficar esquecido nesse processo.

Leave a comment

Blog at WordPress.com.

Up ↑