Xalpen – In memoriam

Xalpen é a banda de Álvaro Lillo – conhecido músico chileno a viver na Suécia – que rende homenagem ao povo Selk´nam, extinto desde o início do século XX.

Entrevista: Cristina Sá
Info: Xalpen


Saudações, Álvaro. Obrigada pelo teu tempo.

Álvaro Lillo – Saudações. Benvinda sejas.

Xalpen é uma banda com uma mensagem para a sociedade do século XXI, não é assim?

Sim. E, claramente, é uma mensagem de Morte,

Conta-nos a história da banda.

Começámos como um duo em 2014: J.P. Nuñez (a.k.a. Keykrok) e (Alvaro Lillo a.k.a. Tarem-Keláash). Eu vivo no norte deste planeta, concretamente na Suécia, e JP no sul, no Chile. De qualquer modo, apesar da distância, conseguimos lançar algum material durante este tempo. Em 2016, fizemos o nosso primeiro lançamento: um EP intitulado «Black Rites». Depois, em 2018, lançámos um segundo EP intitulado «Wowk Otrr» («Oculus Australis»), seguido por um split com os nossos irmãos Skân (EUA) num vinil de sete polegadas. Intitulava-se «Canjku Kashpè» e incluía uma canção nossa exclusiva intitulada “Oh won Ksmet en Pewemet” (“A Trip to the Final Shelter”). Depois foi uma demo tape intitulada «Pahxay» («The Malediction»), gravada em 2017, mas lançada numa versão limitada em cassete em 2019. Em todas estas gravações, convidámos vários camaradas para se juntarem a nós no estúdio, como bateristas e segundos guitarristas. A banda fez apenas um concerto na “cidade do trovão” (Talca), no Chile, no “Nocturnal Ritual”, a 15 de dezembro de 2018.

Podes explicar-nos como é que o Joseph se tornou membro da banda.

Há uns tempos que temos uma ligação forte com o Joseph (a.k.a. K´awx) baseada em aspetos importantes relacionados com temas como filosofia, música e o trabalho relacionado com Xalpen. Faz parte do que Xalpen é agora e do que será num futuro incerto neste mundo. Os objetos e as energias manifestam-se de formas diferentes e isso levou-nos a criar laços fortes com ele, gerando-se um sentimento de irmandade associado ao culto e ao caminho que Xalpen tem de seguir: espiritual e musicalmente.

Podes explicar-nos o significado do nome da banda? [Estive a ler sobre o tema e percebi que tem algo a ver com xamanismo.]

– Que relação existe entre nome e a missão que a banda está a tentar cumprir?

Xalpen é uma entidade poderosa e mística de tempos antigos, uma deusa do mundo subterrâneo terrível e esfomeada que sobe ao mundo dos vivos, quando é altura disso e as cerimónias estão cumpridas. É uma manifestação de uma outra dimensão, de uma era mítica de grandes xamãs e “deuses” tenebrosos, venerada no sul deste planeta desde há muitos milhares de anos até há pouco tempo atrás. O nome e outros aspetos foram tirados das tradições e do legado Selk´nam. A relação com a missão da banda tem a ver com o facto de nós pretendermos desvelar as pontes espirituais que ligam este saber misterioso e antigo recorrendo a música frenética como as vibrações cruas do Black Metal, mas também sermos uma marca neste plano. O nosso caminho e a nossa devoção estão ligados a uma transcendência espiritual e à glorificação dos lados tenebrosos da esquecida Xalpen.

– Adorei este “duplo single”. Temos aqui um Black Metal muito old school, não é assim?

Obrigado pelo elogio. Dou-te razão nesse ponto, mas chamo-te a atenção para o facto de que este comporta elementos novos como psycore, barulhos e frequências que usámos nas canções para criar uma atmosfera de fundo.

“Xalpen é uma entidade poderosa e mística de tempos antigos, uma deusa do mundo subterrâneo terrível e esfomeada que sobe ao mundo dos vivos […]”

Estas canções foram escolhidas entre outras? E como as escolheram? O que podes dizer-nos sobre estas duas canções?

“Among the Pillars of Death” e “Devourer of Light” foram escolhidas por duas razões diferentes e simples. A primeira, porque foi a primeira canção que fizemos para este álbum e, naturalmente, veio-nos à mente a ideia de a usar como single/forma de apresentação, visto que contempla todo o seu conceito musical e lírico, apesar de o seu título não tem nada a ver com o dele. A segunda faixa é uma canção que foi gravada pela primeira vez em 2015, para o nosso EP intitulado «Black Rites». É a primeira canção que a banda escreveu e gravou desde que existe. Foi por essa razão que a incluímos neste material promocional mais um fragmento que foi acrescentado no fim da canção, consistindo num canto xamânico que exprime o respeito e a devoção pela energia que pode extinguir a luz cíclica.

Podes comentar a relação entre a bela capa deste lançamento e as duas canções que fazem parte dele?

A ilustração da capa do álbum representa o conceito de Xalpen, o reflexo obscuro que percorre estas duas canções, a nossa viagem interior até ao seio das trevas, que nos define como banda e indivíduos, e os laços que nos ligam aos xamãs do mundo subterrâneo. É fácil perceber a relação entre esta imagem e as duas canções: “Among the Pillars of Death” é representada pela imagem exterior da autoria de Sebastian Frigerio (Chile) e “Devourer of Light” pela pintura de Helgea Hekatae, que está no meio da capa. Ela também se encarrega do design e layout de todos os lançamentos de Xalpen. Tudo o que diz respeito ao artwork está relacionado com o conceito da banda, a sua arte e o talento de todos os artistas que têm trabalhado connosco desde o passado.

“[…] pretendermos desvelar as pontes espirituais que ligam este saber misterioso e antigo recorrendo a música frenética como as vibrações cruas do Black Metal […]”

Que influência tiveram as vossas outras bandas na música de Xalpen?

Influência na música de Xalpen? Penso que representa para nós o que existe no interior das nossas almas tenebrosas e das nossas mentes caóticas, tudo o que processámos e aprendemos neste tempo a que chamámos vida, tudo o que fez de nós o que somos agora e muitas outras coisas relevantes e espirituais, não apenas tocar música. Por isso, essa pergunta parece-me estranha. De qualquer modo, não consigo fazer uma lista e tentar distinguir coisas ou fazer com que tu me compreendas. Mesmo que isso te pareça arrogante, tentamos manter Xalpen como algo único. Somos todos maníacos amaldiçoados devotos de um Metal de Morte e dedicados às artes ou ligações com o reino espiritual que constitui o conceito de base desta banda a que chamamos Xalpen. E é evidente que me estou a referir a aspetos que passam além da música.

E que planos tem a banda para promover este lançamento?

Tínhamos alguns planos antes da hecatombe desencadeada pela pandemia, Depois de o álbum ter sido gravado e misturado, queríamos fazer um lançamento independente deste material promocional, mais para anunciar a chegada de um futuro álbum a distribuidores, editoras, promotoras e outras entidades de interesse. Depois, todos os planos foram alterados por razões óbvias e decidimos muito simplesmente carregar o material no nosso Bandcamp e deixar as pessoas conhecê-lo online. Foi a solução que nos restou para promover este material. Agora que as duas canções foram disponibilizadas por esta via, podes comprar ou descarregar tudo o que lançámos até agora.

E o que nos podes dizer sobre esse futuro álbum?

Terá sete faixas de genuíno Black Metal. Haverá nele sete murmúrios psicóticos e abissais, que se complementarão entre si e marcarão cada uma das composições encarnadas neste LP. Serão sete cantos xamânicos vindos das profundezas das trevas do pandemónio do sul. Uma viagem de quase 47 minutos ao estado sinistro e caótico em que nos encontramos, uma continuação da nossa caminhada em direção ao legado de um culto antigo. Este material vai ser lançado sob o nome de «Sawken Xo´on», uma expressão em língua Selk´nam que pode ser traduzido em Inglês por «Three Shamans» [“os três xâmãs”], que será também o nome da única canção deste álbum escrita em Espanhol («Tres Chamanes»).

Uma última pergunta: na informação que em enviaram, a banda diz andar à procura de uma editora adequada. Que características deveria ter essa editora? Não quero falar disso agora, porque já recebemos algumas ofertas e temos negociações em curso com parceiros importantes para a banda. Está na hora de obter respostas definitivas e de fechar negócio com as ofertas mais convenientes, para podermos levar avante os nossos planos e dar um seguimento serio e profissional a Xalpen. 

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