Hyrgal -Fins e começos

Para Clément Flandrois, a alma de Hyrgal, o novo álbum contém em si o fim de um ciclo, mas também o início de um outro, que já está anunciado.

Entrevista: Cristina Sá
Info: Hyrgal


Já vos entrevistei sobre «Serpentine», de que gostei muito. E estava a aguardar com impaciência a saída de um novo álbum de Hyrgal. E cá o temos!!!

De que fim de reino nos fala este álbum? [De facto, a pandemia em que estamos mergulhados desde março de 2020 evoca o fim de qualquer coisa.]

Clément – Saudações, Cristina! «Fin de Règne» não tem nada a ver com a pandemia. É verdade que o álbum foi composto durante o nosso primeiro confinamento, mas esta é a única relação entre as duas coisas. «Fin de Règne» representa o que me aconteceu durante os últimos 3 ou 4 anos. O processo criativo deste álbum assenta em constatações pouco agradáveis e em sentimentos como a amargura, a cólera, a tristeza, a angústia. Precisava de vomitar tudo isto, de uma maneira ou de outra, e daí resultou «Fin de Règne». Marca também o fim de uma era para Hyrgal: há muitas transformações em curso no seio desta entidade, de natureza artística, espiritual ou até estética. Este novo álbum representa, em simultâneo, o fim de algo, mas também o início de uma nova era para Hyrgal.

As letras que escreveste para as canções deste álbum fazem-me pensar em poesia simbolista. Sentes-te especialmente influenciado por algum poeta francês ou de outra nacionalidade?

Não tenho quaisquer referências literárias, que façam evoluir o meu estilo de escrita. Contento-me em escrever, da forma mais simples possível, sobre coisas que são importantes para mim. A minha escrita só é condicionada pelo enquadramento prévio que adoto. Por outro lado, não sou grande apreciador da escrita normal ou de um estilo de escrita mais atual…gosto de um estilo de frase mais antigo, sou adepto de uma espécie de idealismo literário ou poético. À parte isso, a escrita passa-se entre mim, o meu lápis e a minha folha em branco, sem influências literárias que me possam ajudar ou um estilo em particular que me amparar.

O primeiro elemento do álbum que me chamou a atenção foi a capa publicada no Facebook. Como pode uma flor representar o fim de um reino?

Mas isso é fácil de explicar. Não se trata de uma flor qualquer, é um lírio. Esta flor tem um forte simbolismo, sobre o qual os leitores se poderão informar. Além disso, esta flor é também um dos símbolos da França, que, atualmente, está a afundar-se num grande marasmo e a ver a sua herança, as suas tradições e o seu folclore desaparecer pouco a pouco. A combinação de todos estes símbolos – pessoais ou da comunidade – perpassa no título do álbum: «Fin de Règne».

[…] «Fin de Règne» representa o que me aconteceu durante os últimos 3 ou 4 anos. O processo criativo […] assenta em constatações pouco agradáveis e em sentimentos como a amargura, a cólera, a tristeza, a angústia.[…]”

Tenho a impressão de que este álbum é mais furioso que «Serpentine». Estás de acordo comigo? Porquê (ou porque não)?

De facto, o álbum é mais furioso, como tu dizes, mais veemente, abala mais. Logo à partida, eu tinha decidido fazer um álbum que representasse o meu estado de espírito, que, neste momento, é particularmente acerbo e colérico. E isso transparece no álbum. Como não gosto de fazer a mesma coisa duas vezes, era mais que evidente para mim que «Fin de Règne» devia ter um outro sabor, propor algo mais radical, que estivesse simultaneamente relacionado com o meu espírito e as minhas aspirações musicais.

Que papel atribuis aos dois outros membros de Hyrgal no processo de criação?

No que diz respeito ao processo de criação, eu sou o único chefe: componho tudo e trato de gerir todos os elementos do artwork em colaboração com os artistas gráficos. Portanto, quase não dou espaço de intervenção aos outros membros nesses planos. Em contrapartida, uma vez tudo isso feito, dialogamos muito sobre estes elementos. Estou aberto a observações, críticas e outras análises por parte deles, que frequentemente são muito pertinentes e construtivas. Mas, no fim de contas, quem decide sobre o projeto e a sua finalização sou eu.

O que pensa fazer para promover o vosso segundo álbum? A vossa editora é bastante eficaz, portanto deve ter planos para o fazer.

De facto, a LADLO é uma excelente editora, muito profissional e sobretudo muito apaixonada. São todos muito dedicados à causa e gostam de fazer o seu trabalho bem feito, nomeadamente no que diz respeito à promoção. Pessoalmente, é uma área em que não me sinto nada à vontade. As redes sociais não são propriamente a minha praia e promover a minha música é algo que teria muita dificuldade em fazer. Portanto, deixo atuar quem é bem mais competente do que eu nessa área. De qualquer forma, não temos concertos previstos devido à COVID e todos os problemas a que deu origem. Prefiro a qualidade em relação à qualidade e logo veremos o que vai acontecer no futuro. De momento, o mais importante é escrever o terceiro álbum.

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