Nebran – Medievalismo metálico

Trevas, medievalismo, brumas, solidão… Eis os elementos que A/M combinou para produzir o Black Metal atmosférico de Nebran que já se mostrou numa demo e num split e aguarda a saída do primeiro álbum da banda.

Entrevista: Cristina Sá
Info: Nebran | Ván Records


Nebran

Já te entrevistei várias vezes a propósito dos lançamentos de Total Hate. Mas Nebran parece bastante diferente, embora também seja Black Metal.

– Como descreverias o que distingue as duas bandas?

Sim, ambas as bandas são 100% Black Metal à moda do início dos anos 90, mas, tal como dizes, fazem-no de uma maneira diferente. Total Hate é uma verdadeira banda, a música é muito mais agressiva e rápida, fazemos concertos, etc. Nebran sou só eu. É um Black Metal mais atmosférico e talvez seja mais variado, porque uso mais instrumentos e as minhas influências são diferentes das de Total Hate. Para dizer de uma forma sintética e simples, a música de Total Hate é influenciada por Gorgoroth/Darkthrone e Nebran por Burzum/Strid.

– Por que sentiste necessidade de ter outra banda? [Total Hate deve ser bastante absorvente para ti, embora não sejas o único elemento da banda.]

Lancei Nebran há cerca de dois anos, antes desta barafunda toda da COVID ter começado, e, quando formei o projeto, encontrava-me numa fase muito difícil e complicada da minha vida. Comecei a trabalhar nas canções para converter todas as minhas energias negativas e usei o projeto como uma válvula. Total Hate não era suficiente para mim nessa altura. Uma das canções da demo foi escrita há uns anos atrás para uma banda alemã de Black Metal chamada Sterbend, mas infelizmente (ou felizmente!) nunca foi gravada.

Depois de o Czernobog se ter integrado em Total Hate como o novo guitarrista principal e ter começado a envolver-se no processo de composição, fiquei com a sensação de que já tinha feito o que podia na banda e comecei a pensar que não há necessidade de me envolver na composição de novas canções… para já. O Czernobog e o Aer são compositores fantásticos. Demasiados cozinheiros juntos estragam a sopa.

– E por que decidiste que Nebran devia ser uma oneman band?

Quando eu formei o projeto, sabia que seria capaz de assegurar todos os instrumentos sozinho e que nunca faria concertos. Tinha planos para formar um projeto há muito tempo, mas nunca tinha tempo para concretizar as minhas ideias. Para mim, a música de Nebran funciona se estiveres na floresta, nas montanhas ou à beira de uma fogueira no meio de umas ruínas ou noutro sítio qualquer. Não serve para concertos, festas, bares de Metal ou discotecas.  Além disso, é muito agradável poderes tomar decisões – sobre os lançamentos, a composição, o merchandising, etc. – sem teres de dar satisfações a ninguém.

– Já pensaste na hipótese de chamares alguém para a tua banda?

Não, ainda não. Já teria pensado nisso, se fizesse concertos, mas não é o caso. Vamos esperar e ver em que direção segue Nebran…

[…] Para dizer de uma forma sintética e simples, a música de Total Hate é influenciada por Gorgoroth/Darkthrone e Nebran por Burzum/Strid.

A/M

Nebran lançou uma demo e agora um split com Goath.

– Que temas tratas nesta banda?

Nebran é, antes de mais, influenciada e modelada pela natureza, por tópicos históricos e medievais, combinados com experiências pessoais predominantemente negativas relacionadas com a humanidade. Finalmente, no mês passado, consegui mudar para uma área onde vivo rodeado de bosques, montanhas, grutas e ruínas. Por fim, posso satisfazer o meu gosto pelo isolamento, que me anima há muito tempo. Esta área é muito inspiradora e quase me atrevo a dizer que Nebran constitui uma espécie de banda sonora de tributo a esta região.

– É a música que se adapta aos temas tratados nas letras? O oposto? Nenhuma destas situações?

Na realidade, componho primeiro a música e depois trato das letras e da voz, mas tenho sempre ideias na minha cabeça sobre as quais quero escrever.

– Fazes mesmo tudo sozinho?

Aer (o guitarrista de Total Hate) ajudou-me na demo nas partes de bateria. Fui eu que toquei a bateria no EP split com Goath e para o novo álbum que vou lançar. Portanto, penso que posso dizer que fiz tudo sozinho, exceto tocar bateria na demo. Até produzi e filmei dois videoclips quase sozinho.

Gosto mesmo da foto na capa de «A New Path» (a demo).

– Foste tu que a tiraste?

Sim, veio da mesma sessão fotográfica em que fiz as fotos para a capa e as outras partes do layout do último álbum de Total Hate intitulado «Throne Behind a Black Veil».

– De que forma esta foto se relaciona com o tema central da demo?

Tirei a foto na mesma altura em que compus as canções e parece-me perfeitamente adaptada aos tópicos medievais que tratei (entre outros). Está perfeitamente adequada à minha “fuga” deste mundo e à minha vontade de me embrenhar num “novo caminho”. Nebran e tudo o que diz respeito a este projeto estão relacionados com o antagonismo existente entre o Black Metal e o mundo moderno e seus discípulos.

Fala-nos do split com Goath. [Já os entrevistei sobre «Luciferian Goath Ritual», em 2017, álbum que muito apreciei.]

Sim, lembro-me disso. Eu era o baixista e um membro fundador de Goath, mas, a certa altura, começou a ser demais para mim e tive de sair da banda. Foi uma decisão difícil, mas que tive mesmo de tomar. Andaram a espalhar boatos sobre a relação de Goath comigo, na altura em que saí da banda, pelo que decidimos fazer um split, para consolidar a nossa fraternidade. Continuamos a ser bons amigos e não há quezílias entre nós. O Serrator é o baterista de Total Hate e o Goathammer também faz parte da atual formação da banda, portanto metade dos membros de Total Hate também fazem parte de Goath. Não se pode acreditar em todos os boatos que circulam. Como deves saber, tanto Goath como Nebran são bandas da Ván Records, o que facilitou o lançamento do split. O 7” contém 2 canções originais, uma de cada banda.

Gostei muito da tua canção publicada nesse split. Adorei a mistura de voz enraivecida com uma bateria monótona e belas melodias de guitarra. Não havia também uma ponta de teclados?

Obrigado. Sim, ouviste teclados tocados de forma decente. Como sabes, sou um grande fã de Black Metal do início dos anos 90 e gosto mesmo de Black Metal atmosférico com partes de teclados, portanto decidi acrescentar sintetizadores e teclas a Nebran. A música fantástica de bandas como Gehenna, Burzum, Emperor, Bathory, Mortiis, Infernum, Summoning, Graveland, Samael, Wongraven e Dimmu Borgir dos primeiros tempos é uma grande inspiração para mim.

A demo de Nebran foi lançada pela Ván Records e este split vai seguir o mesmo caminho, não é verdade?

Sim. Com Nebran decidi seguir o caminho do Black Metal e vou continuar a seguir esta direção. A Ván Records lançou a versão em vinil e a editora underground alemã Apocalyptic Art lançou uma cassete, numa edição limitada de 111 cópias. Ambas as versões deviam estar ainda disponíveis a um preço normal em vários distribuidores, mas esgotou na Ván Records e eu já não tenho nenhuma cópia, logo tens de ser rápida, se quiseres comprar alguma.

Disseste-me que a canção que lançaste neste split anuncia o primeiro álbum de Nebran. Estou ansiosa por ouvir esse álbum e por te entrevistar a esse respeito.  O que me podes dizer sobre este futuro lançamento?

A canção de Nebran intitulada “Pestwind” foi feita exclusivamente para este EP split, mas já gravei o primeiro longa duração da banda e a Ván Records já fez a mistura e masterização do álbum há semanas, agora até já são meses. Estamos a ter problemas para imprimir a versão em vinil, mas tenho a esperança de que o álbum seja lançado no início de 2022. Intitula-se «…Of Long Forgotten Times» e tem 9 faixas. A versão em CD digipack terá ainda um CD bónus incluindo a demo e a canção lançada no split EP, pela primeira vez em CD. Muitas pessoas pediram-me a demo em CD e agora vão ter tudo com o primeiro álbum.

Goath também vai lançar um novo álbum depois deste split?

Não me parece que isso venha a acontecer, porque Goath lançou o seu terceiro álbum em abril de 2021. Se ainda não o ouviste, digo-te já que vale a pena fazê-lo!

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