[Best of 2023] Vagos Metal Fest

O ano está a terminar mas recordamos um dos festivais do anos – Vagos Metal Fest – já com um cartaz bastante composto para 2024

Texto: CSA & João Paulo Madaleno
Fotos: João Paulo Madaleno

DIA 1 – 3 DE AGOSTO DE 2023

Chegámos ao recinto pelas 16h e já se via gente a aguardar o início das hostilidades, motivo pelo qual o jardim, a praça, os cafés e as roulottes de venda de comes e bebes estavam bem ocupados.

Depois das formalidades da praxe relacionadas com a troca da creditação por uma pulseira reservada à imprensa – em que houve alguns problemas prontamente resolvidos pelos dois jovens destacados para esse serviço – pudemos descer ao recinto, que estava organizado como nos anos anteriores. No entanto, chamaram-nos a atenção a existência de um estrado vedado, com rampa de acesso, destinado às pessoas com mobilidade reduzida, e uma casa de banho portátil também especificamente destinada a este tipo de público, o que torna o festival mais inclusivo. Afinal, há metaleiros com essas características, incluindo músicos (como é o caso do famoso Jeff Becerra, vocalista dos Possessed).

As bandas iam alternando em dois palcos: Hidromel Lucitanea e Sublimevilla, estando o primeiro – mais pequeno – situado à esquerda de quem entrava no recinto e o outro de frente para a entrada do recinto e a zona de restauração. Cada um deles dispunha da sua cabine de som, estrategicamente posicionada em relação a este.

Começámos por ouvir Dagara, banda francesa que toca variados estilos – Melodic Death Metal, Thrash e Hardcore – e que atuou no Lucitanea, entre as 16h35 e as 17h45. À medida que se sucediam as canções, aumentava o entusiasmo, até porque o vocalista Jimmy Trapon fez um bom trabalho a animar o público – ainda pouco numeroso – presente no recinto, revelando inclusive uma faceta plurilinguista (combinando Francês, Inglês e até alguns fragmentos de Português para comunicar). Os metaleiros presentes corresponderam fazendo um mosh pit.

Seguiram-se os Vendetta FM, uma banda de Hardcore espanhola que atuou no palco Sublimevilla. Não duvidamos de que sejam uma banda interessante, mas tiveram pouco êxito na sua tentativa de animar o público (ao contrário dos seus antecessores gauleses). Talvez isto tenha acontecido, porque os fãs presentes se centravam mais noutros géneros.

Por volta das 17h45, avançou-se para a terceira banda do dia: os Besta, uma banda de Grindcore, ativa desde 2007. Por esta altura, tínhamos regressado ao palco Lucitanea, onde os portugueses brindaram o público com um estilo furioso e agitado e com uma interação simpática com os fãs. Tiveram pouca sorte, porque já eram a terceira banda de algum tipo de “core” e as pessoas não reagiram com o entusiasmo que a banda merecia. Nada disso tira o mérito a esta banda lisboeta, que faz parte do catálogo da editora alemã Lifeforce Records.

É também de referir que sistematicamente o som deste palco dava demasiada ênfase à bateria, chegando mesmo a abafar fortemente o vocalista da banda em atuação. O problema foi-se atenuando, mas nunca desapareceu por completo.

Às 18h30, no palco Sublimevilla, deu início à sua atuação uma das bandas mais esperadas do dia e até de todo o VMF: os australianos Be’Lakor, cujo estilo se situa na área do Melodic Death Metal. Coube ao vocalista/baixista John Richardson fazer as honras da casa interagindo com o público, sempre de forma circunspecta. Também esta banda começou por ter alguns problemas de som, fazendo com que o público tivesse dificuldade em acompanhar o vocalista até quando este falava. Após uma pequena pausa para resolver o problema, foi possível prosseguir com o concerto em circunstâncias mais favoráveis. A banda brindou a audiência com canções mais recentes e outras mais antigas – o que é fácil dado que já contam com cinco álbuns – e encerrou o concerto com “Countless Skies” («Stone’s Reach» – 2009). Nada fez diminuir o entusiasmo dos fãs, que devem ter conseguido mostrar à banda que a incursão em terras portuguesas tinha valido a pena.

Seguiu-se Dieth, às 19h30, no palco Lucitanea. Trata-se de uma banda polaca de Death/Thrash Metal, que deveria ter atuado antes de Be’Lakor, mas que acabou por trocar de lugar com os australianos a pedido destes (provavelmente por, no dia 5, terem de estar a atuar no Wacken Open Air). Sem grandes surpresas, mas de forma segura, foram apresentando o seu material, que leva a chancela da Napalm Records. Eventualmente terão ficado prejudicados pelo facto de o dia já ir longo e os festivaleiros terem sentido a necessidade de acorrer às barracas da zona da restauração para se prepararem para os cabeças de cartaz do dia.

Alestorm atuou às 20h30, no palco Sublimevilla, e, apesar de ser a terceira vez que esta banda participa no VMF, suscitou um entusiasmo que nem o intenso vento frio que se manifestou durante todo o dia conseguiu quebrar. Mais uma vez, a banda foi anunciada pela presença no palco de um boneco insuflado representando um daqueles patos de borracha amarelos com que os bebés costumam brincar no banho, mas neste concerto imperou o verde, presente na indumentária dos membros da banda, que incluía desde calções de desporto até a um kilt escocês, e mesmo em alguns dos instrumentos musicais usados. O concerto foi ainda animado por um “tubarão” vocalista, marcando o lado irreverente e cómico da banda! Do lado do público, voavam boias de praia da forma de flamingos e tartarugas! Durante uma hora, o público divertiu-se à brava sob o lema “Let’s P-A-R-T-Y!” anunciado por Christopher Bowes.

Às 21h45, entraram em ação os Sacred Sin, no outro palco. Esta banda portuguesa de Death/Thrash Metal foi também afetada pelo som de bateria extremamente forte! Não é que não valha a pena ouvir a bateria de Ricardo Oliveira, cujo mérito foi inclusivamente referido pelo vocalista José Costa, mas era penoso por vezes nem se ouvir o que o vocalista dizia e cantava. Também há que referir que, como os dois palcos ficavam muito perto um do outro, os Sacred Sin também foram afetados pelo sound check da banda que se iria seguir no outro palco. O frio e humidade intensos que se começaram a fazer sentir assim que a noite desceu também não ajudavam, mas, no conjunto, o concerto dos sintrenses agradou a público presente.

E os senhores que se seguiram eram de respeito: nada mais nada menos do que os brasileiros Sepultura. Só a referência ao nome já suscita polémica, visto que há quem considere que Sepultura acabou há longos anos, quando os irmãos Cavalera deixaram a banda. Mas o certo é que os (novos) Sepultura tocaram, cantaram e encantaram: temas novos e temas do passado, temas conhecidos e temas menos conhecidos. A interação com o público foi abundante, até por partilharmos a mesma língua. Curiosamente, mesmo Derrick Green foi falando Português (do Brasil, é claro!). Eloy Casagrande – considerado um dos maiores bateristas da atualidade – teve ampla oportunidade de mostrar a sua arte. E o público fez jus ao esforço da banda, escapando ao frio e humidade da noite graças ao headbanging.

Para a Versus, o primeiro dia do VMF encerrou com a atuação dos Corpus Christii, a conhecida banda de Black Metal portuguesa, que já há muito tempo deveria ter sido incluída no cartaz de uma das edições deste festival. O público não era tão numeroso como para os concertos anteriores até porque este género não faz parte das preferências de muita gente. Mas não faltou gente para assistir ao concerto. Nocturnus Horrendus e J. Goat fizeram-se acompanhar por um baixista (Koraxid, dos Grievance) e um baterista e fecharam a noite em beleza.

DIA 2 – 4 DE AGOSTO DE 2023

Esta parte da reportagem começa pela segunda banda do cartaz deste dia, que era All Against, uma banda portuguesa de Thrash/Groove Metal sediada em Lisboa. Infelizmente, teve direito a uma receção “morna”, porque o público ainda estava a recuperar do dia anterior. Assim, a banda, a mostrar-se dinâmica, tentou puxar pela plateia, mas não teve grande sucesso nesse seu intento. Entretanto, foi possível constatar que, no palco Lucitanea, o som estava melhor do que no dia anterior sem sair do razoável.

Seguiram-se os Lecks Inc, uma banda francesa que se dedica a um Metal Industrial que apresenta como experimental e que já tem quatro álbuns na sua discografia. Curiosamente, também participaram na edição do VMF de 2022. Tocaram no palco Sublimevilla a partir das 17h10, para um público que acabava de chegar e ainda se estava a posicionar no recinto e que procuraram conquistar com o seu ritmo com tons eletrónicos e tendências industriais – a fazer lembrar Marlyn Manson – e a sua indumentária criativa.

Às 17h45, os olhares voltaram-se para o palco Lucitanea, onde iam tocar os Glasya, banda portuguesa de Metal Sinfónico, com uma mulher na voz – Eduarda Soeiro – como é habitual nestas bandas. Apesar do estilo, a banda fez uma entrada poderosa, mas o concerto ficou prejudicado por um som demasiado alto e ainda por uma atitude discutível: desligaram a energia/som mesmo quando a banda estava a acabar a sua atuação.

O palco Sublimevilla acolheu os americanos Gatecreeper às 18h30. O público reagiu bem ao seu Death Metal – apesar de a banda não ser conhecida – e procurou cooperar para criar uma atmosfera animada. Por sua vez, a banda brindou-o com uma atuação sóbria, a primeira em Portugal.

Os Seventh Storm – a já bem conhecida banda de Progressive/Gothic Metal fundada em 2020 por Mike Gaspar, ex-baterista de Moonspell – apresentaram-se no palco Lucitanea, às 19h30. Sob a batuta deste experiente músico de Metal, a banda deu um concerto muito intenso focado no seu único álbum – «Maledictus», lançado em 2022 pela Atomic Fire Records – deixando em muitos o apetite para um novo álbum. É de assinalar que recorreram a bailarinas para sublinhar o ritmo das canções.

De regresso ao espaço diante do palco Sublimevilla uma hora depois, o público foi acolhido pelos Tara Perdida, uma banda de Punk Rock portuguesa sobejamente conhecida até porque surgiu em 1995. Apesar de estar pouco ligada ao espírito metaleiro do festival, a banda suscitou grande adesão por parte dos headbangers presentes.

Mudando completamente de estilo, às 21h45, foi possível acompanhar Nervosa, banda de Thrash Metal com uma formação inteiramente feminina. É curioso que, apesar de dada como brasileira, a banda só tem um elemento desta nacionalidade (a vocalista/guitarrista) sendo a baterista búlgara e a baixista e a segunda guitarrista gregas. Independentemente destes pormenores, a banda apresentou-se bem – com um som abrilhantado por guitarras densas – e soube puxar pelo público. A vocalista nem se desconcertou, quando ficou com o cabelo preso no microfone.

Para a Versus, a noite fechou com Ugly Kid Joe, uma banda americana de Hard Rock, que alcançou grande êxito nos anos 90, atualmente objeto de grande nostalgia. Tendo subido ao palco Sublimevilla às 23h, manteve uma boa comunicação com o público e apresentou um som muito equilibrado. Tocaram essencialmente temas antigos, destacando-se duas exceções: o primeiro tema tocado, que apresentava uma toada tipo AC/DC, e uma cover de “Ace of Spades”, dos Motorhead, que contou com a participação de um baixista dos Megadeth.

DIA 3 – 5 DE AGOSTO DE 2023

No terceiro dia, começámos com Process of Guilt, às 17h45, no palco Lucitanea. A banda portuguesa sediada em Évora apresentou um concerto de Sludge Metal muito equilibrado… e também bastante prejudicado pelo som, que quase só deixava ouvir a bateria. Conhecemo-los há vários anos e sabemos que vale a pena escutá-los.

Seguiram-se os Heidevolk, no palco Sublimevilla, às 18h30 (que trocaram o horário com Midnight). Apresentaram um Folk/Viking Metal focado na cultura alemã, apesar de serem holandeses. Tocando em Portugal pela primeira vez, a banda apostou nos seus dois vocalistas para manter a comunicação com o público, o que foi feito parcialmente explicando os temas das canções que iam desfiando. Em 2 ou 3 canções, os dois vocalistas, o baixista e o guitarrista cantavam em conjunto, apenas com acompanhamento pelo baterista. A banda contou com a participação do Pinguças, um enorme peluche que vagueava pelo recinto, “pilotado” por um par de jovens.

Às 19h30, tocaram os Monuments, no palco Lucitanea. Conhecidos pelo seu Metal Progressivo e o seu Djent Metal, os britânicos deram um concerto interessante. O vocalista apresenta uma voz de grande extensão, mas que parece precisar de mais prática, para atingir a sua máxima potencialidade. A dar uma nota de cor, destacava-se a sua camisa havaiana!!!

Deu-se nova passagem ao palco Sublimevilla, às 20h30, para o concerto dos austríacos Belphegor, um nome conhecido na cena Black Metal. A entrada da banda foi feita ao som de música clássica, que combina com muito Metal e particularmente com Black Metal. Felizmente, já era noite, porque assistir a um concerto de Black Metal à luz do dia é, no mínimo… desconcertante! O concerto abriu com “Baphomet”, um clássico da banda, e seguiu com alguns momentos que mais pareciam Doom que Black Metal, sempre pontuado por interações de Helmuth com o público, o que também não é habitual neste tipo de bandas. Não terá sido o concerto com mais público, mas o que assistiu gostou. E muitas pessoas ficaram curiosas com a decoração do palco e – é claro – com o corpse paint usado pelos músicos. O de Helmuth é particularmente sinistro!

Às 21h45, subiu ao palco Lucitanea uma das bandas mais esperadas da noite e que mais curiosidade parecia despertar: Imperial Triumphant. Trata-se de três músicos americanos que fazem algo designado por Avant-garde/Technical Black/Death Metal. É complexo, envolve muitos géneros de Metal, é cativante! Houve quem gostasse muito… e houve quem dissesse que reconhecia a qualidade musical, mas não se identificava nada com Metal tão complexo. De qualquer modo, esta banda parece não ter deixado ninguém indiferente. Aconselha-se o leitor a ir ver uns vídeos no YouTube, para perceber do que estamos a falar.

E – às 23h, no palco Sublimevilla – apareceu a banda mais desejada da edição do VMF de 2023: Tryptykon, mas a tocar Celtic Frost!!! Ou seja, Thomas Gabriel Fischer com um trio de excelentes músicos, que tocaram sem parar durante 1h e 45 minutos, acompanhando o ouvinte numa visita guiada a uma das mais famosas bandas a que este músico suíço pertenceu/pertence. O front man das duas bandas em questão – um verdadeiro “dinossauro” do Metal, mas sempre a dar cartas – foi fazendo as honras da casa. E ao ouvir aquele concerto ficou claro o que queria dizer o baterista da banda – Hannes Grossmann – numa entrevista sobre Alkaloid, a sua banda de Progressive Death Metal, quando comentou que naquela semana teria muito pouco tempo livre, porque tinha de ensaiar com Tryptykon. É que tocar assim e tantas canções seguidas não é para todos!!! Que o digam também V. Santura e Vanja Šlajh, o baterista e a baixista da banda.

E que dizer mais sobre este festival?

Que gostamos muito, embora não fosse perfeito. Podemos referir os problemas de som e o facto de o sound check da banda que estava num dos palcos a preparar-se para o seu concerto perturbar a que estava a atuar no outro palco. Mas também podemos referir muitas notas positivas como a simpatia, o bom ambiente, a preocupação em melhorar de ano para ano, a vontade de diversificar para todos os metaleiros poderem encontrar algo do seu agrado \m/

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