Citadel – Vida interior

«Remember Your Past» é um projeto musical francês que combina Black Metal sinfónico com toques de outros géneros musicais para nos fazer refletir sobre a vida. Foi-nos apresentado por Jeff Grimal (ex-The Great Old Ones, Spectrale), que trouxe os outros membros da banda para responder a esta entrevista.

Entrevista: Cristina Sá
Info: Citadel


Citadel

Saudações, Jeff! Espero que esteja tudo bem contigo e com os outros membros da banda.

Antes de mais, gostaria que nos apresentasses Citadel e a sua história. Na minha opinião, trata-se de um projeto que vai marcar a cena Metal.

Jeff – Citadel é um projeto de Black Metal sinfónico muito marcado por bandas dos anos 90 como Emperor, Enslaved, Satirycon, etc. É o projeto do Meddy, que se ocupa dos teclados e toca guitarra. Ele andava à procura de músicos para o ajudarem a concretizar a sua obra e eu achei que o seu projeto era muito interessante, sobretudo porque o Black Metal dos anos 90 está um tanto esquecido neste momento e também porque há muito tempo que andava com vontade de tocar num projeto old school. Propus-lhe dar voz à banda e fazer alguns arranjos para a guitarra e também compus algumas coisas. Depois propus ao Benoît tocar o baixo e convidei o Léo para a bateria. O Benoît é membro de uma banda de homenagem a Tool e pareceu-me interessante inserir na banda alguém que não faz parte deste estilo. Aliás, na gravação do álbum, demos o maior destaque ao baixo, o que não é nada habitual no Black Metal. Quanto ao Léo, é o meu guitarrista e baterista em Spectrale e também tocou em The Great Old Ones.

Meddy – Obrigado pelo vosso interesse pela banda e pela nossa música. Comecei a compor para este álbum em dezembro de 2019 e, nessa altura, estava convencido de que não iria além de uma demo. Mas, pouco tempo depois de o projeto ter sido criado, o Jeff juntou-se a mim e fez um trabalho fantástico em relação à guitarra. O Benoît no baixo e o Léo na bateria vieram tornar a coisa ainda melhor. Ambos deram um contributo importante fazendo algo que eu não teria sido capaz de fazer. Este álbum surgiu, porque eu tinha uma grande necessidade de exteriorizar coisas passadas e de exprimir sentimentos, vivências.

Gosto muito da combinação da guitarra clássica e de passagens que parecem planar com o Black Metal. Dão um lado onírico ao projeto.

Jeff Grimal

No fim de março, lançaram «Remember Your Past» classificado pela Metallum como Black Metal sinfónico. Que pensam deste rótulo?

Jeff – Parece-me muito adequado! Corresponde exatamente ao estilo da banda.

Meddy – Sim, corresponde na perfeição.

Ouvi o álbum e penso que se encontra nele aspetos para todos os gostos: passagens bem Black Metal, outras limpas, outras mais atmosféricas ou progressivas. Que pensam desta reflexão?

Jeff – É verdade, há um lado progressivo na nossa música. Gosto muito da combinação da guitarra clássica e de passagens que parecem planar com o Black Metal. Dão um lado onírico ao projeto. Por outro lado, confesso que me aborreço rapidamente, se, nos meus projetos, a música for sempre agressiva e violenta. Esse lado planado permite precisamente criar momentos de subida e torna a força da música mais palpável.

Meddy – Penso que os estilos que se pode ouvir ao longo do álbum reproduzem as variações do espírito: humor, raiva, acalmia, etc. Gosto de criar coisas diferentes na forma. A intro estilo Dark Ambient é um bom exemplo disso, bem como as passagens acústicas do Jeff, que embelezam e tornam mais calmas outras faixas.

Ben – Quando o Jeff me fez ouvir as demo, gostei imenso do lado old school, mas também do lado prog. Podia combinar as trevas que queria exprimir com as outras nuances associadas ao lado mais progressivo. Este álbum está carregado de emoções!

Também gostie muito das nuances da voz que acompanham toda esta variação musical. Uma vez que és tu que dás voz ao projeto, o que nos podes dizer sobre isto, Jeff?

Jeff – Gravei a voz durante o confinamento, numa altura em que estava a viver um período muito tortuoso e muito sombrio, sentindo-me próximo da aniquilação. Precisava de expulsar toda essa negatividade e para isso nada melhor do que cantar, algo que permite exteriorizar, rejeitar, purgar. Ao escrever os textos, veio-me naturalmente a ideia de usar voz limpa em algumas passagens e estou verdadeiramente satisfeito com o resultado final.

Quem compôs a música do álbum?

Jeff – O Meddy fez uma grande parte do “esqueleto” e eu compus e harmonizei algumas das faixas. O Benoît escreveu as linhas para o baixo e o Léo “humanizou” a bateria. Em suma, todos nós participámos na composição.

Meddy – Sim, acabámos por participar todos na composição, o que eu fiz era apenas o “esqueleto”, a escrita básica do álbum.

E quem escreveu as letras?

Jeff – Eu escrevi todos os textos.

Penso que os estilos que se pode ouvir ao longo do álbum reproduzem as variações do espírito: humor, raiva, acalmia, etc.

Meddy

De que nos fala este álbum?

Jeff – Tendo em conta o nome da banda, seria de esperar que a banda se ocupasse da Idade Média ou de heroic fantasy. Mas não é nada disso! As letras contam a história de um homem que vê várias vidas desfilarem diante dos seus olhos depois da sua morte. Uma em que ele era um psicopata, outra em que é vítima de um carrasco, outra em que experimenta uma rutura amorosa cujo desgosto acaba por o matar. O nome Citadel refere-se à “cidadela interior” de cada um. Apoio-me na crença na reencarnação depois da morte física. Cada vez que morre, a personagem recorda-se das suas outras vidas e das aprendizagens que delas resultaram. A cidadela representa todas as recordações dessas vidas, é uma espécie de capela em que se encontram todas as suas ações e as pessoas com quem se cruzou.

Também sei que estás por trás da arte deste projeto, Jeff.

– Podes explicar-nos o que podemos ver na capa do álbum?

Jeff – Como já referi, representa um homem que faz uma viagem espiritual.

Ben – Adoro a arte do Jeff: é sombria e luminosa ao mesmo tempo, como o trajeto de uma vida. E depois tem um lado caleidoscópico, que faz pensar nas alucinações provocada pela Ayhuasca. Trata-se de uma busca espiritual para tentar dar sentido às nossas vidas e a tudo o que nos fazem sofrer, tudo o que sacrificamos no altar do dinheiro e do lucro…

Meddy – Estou completamente de acordo com esta perspetiva.

– E o que representaste no logo da banda?

O logo é da autoria de Business for Satan e ele fez um trabalho notável.

Em que ponto está o álbum no que toca às reações dos fãs e da imprensa?

Jeff – Ainda só agora começamos a promove-lo, portanto, de momento, ainda não temos muito retorno.

A banda não tem editora. Pretendem continuar assim? Já alguém mostrou interesse por este projeto musical?

Jeff – O álbum foi lançado por três editoras: Duality Records, Cold Dark Matter Records e Enter The Void Records.

Ao que parece, Citadel vai ser um projeto de estúdio, portanto não haverá concertos. Porquê?

Jeff – Sim, porque vivemos longe uns dos outros e temos vidas muito cheias. Não tenho tempo para fazer concertos com Citadel.

Meddy – Todos nós temos muito trabalho paralelamente a este projeto, além dos nossos empregos e de outros projetos artísticos, portanto não é possível fazer isso.

Já têm planos para o futuro? Um novo álbum na calha?

Jeff – Não temos nenhum álbum novo em preparação. Temos de fazer a promoção deste álbum e, como sabes, isso é um processo demorado.

Medy – Ainda não compusemos nada de momento: mais uma vez, temos muitas coisas a fazer a par disto, hehe. Mas estou a pensar nisso para daqui a um, dois anos ou até mesmo mais.

Uma última questão para o Jeff: pintas frequentemente quadros intitulados Citadel. Isso tem algo a ver com este projeto? O projeto musical é uma extensão musical da pintura?

Jeff – Os quadros intitulados Citadel ajudam-me a situar-me no meu quotidiano, a curar-me. Eu explico: quando sinto que estou a atravessar um período tenebroso, a pintura atenua a minha tortura mental, acalma os meus medos. A verticalidade dessas obras representa os chakras que é preciso alinhar. Isso ajuda-me a manter-me preso à realidade e em conexão com a matéria, o solo, a terra.

Respondendo agora à parte da pergunta sobre o que representa o nome Citadel, posso dizer-te que representa o lado “espiritual” da minha obra. Obrigado pela tua entrevista.

Meddy – Obrigado.

https://citadelbm.bandcamp.com/releases

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